(Keanu Reeves revive samurai no filme “Os 47 Ronis”. Um grande protetor da donzela em perigo!)

 

Olá a você que agora procura se deliciar com as informações na Hikari, nesse mês de agosto reservamos um espaço especial na coluna para trazer um dos assuntos/temas que este redator mais gosta de falar (além dos animes, é claro!): a literatura.

Promover a literatura é o papel de toda pessoal educada e cheia de responsabilidade social. É a literatura um componente não só do conhecimento pragmático do homem, como uma importante arte de promoção da interação social, afetiva e criativa.

Esse que vos fala é apaixonado por isso! Tanto que há alguns anos decidiu ser um escritor, mas a vida de escritor não é fácil, por isso ele ainda está bem no comecinho de carreira. Tem um livro pronto ainda em processo de publicação (é muito apego!) e alguns contos também produzidos, uns pubicados, outros não…

É nessa pegada de contos que vamos falar agora. O Conto é uma narrativa curta que detém um enredo cativante e tão delimitado que possa ser fácil para que qualquer pessoa possa ler em um espaço menor de tempo, lhes apresento agora – e durante mais dois domingos – um conto feito por mim sobre esse universo tão amado por nós que é o imaginário nipônico. 

O Ronin e a Princesa é aquele tipo de aventura onde a ação e o romance se misturam com a fantasia e promete nos divertir até o fim. Para tornar a leitura mais atrativa, durante os textos você encontra imagens de animes e games que fazem referências diretas às personagens dessa obra, uma forma de você perceber como tudo pode ser inspiração quando se escreve e quem sabe possa ter o insight e fazer um conto também! Então vamos lá!

 

O Ronin e a Princesa (Parte I)

Yuusako Morino era o que de mais decadente se podia esperar de um ex-combatente das tropas mais poderosas que o Império do Japão já conheceu, desde o início da Restauração Meiji, no século XVII, a classe dos samurais perdeu seu prestígio e entrou em declínio na estrutura política nipônica. A restauração transformou o Japão na primeira nação asiática com um moderno sistema de nação-estado inspirado nas formas organizadas dos governos ocidentais.

A imagem do samurai, o guerreiro que defendia o daimyô e seus interesses, não cabia em uma sociedade onde a aristocracia dava seus primeiros sinais de desgaste. Quando o Imperador Meiji retomou em definitivo das mãos dos Xoguns Tokugawa o governo do Japão, a classe dos samurais foi proibida em toda a extensão das terras nipônicas tendo sua função assumida por uma polícia semelhante a dos países do novo mundo.

Nessa sequência de acontecimentos Yuusako, que antes foi um samurai de alto escalão, perdeu tudo, suas finanças, títulos e amigos. Poderia ter cometido o seppuku e assim ter morrido como um samurai orgulhoso, mas seu daimyô determinou como o único de sua tropa a não cometer o ato e honrou a última ordem de seu senhor, mas amaldiçoava sua vida desde então. Não poderia abandonar o bushidô. Por isso passou a ser um ronin e caiu em desgraça vivendo a margem da sociedade fazendo bicos como guarda-costas de mercadores e pequenos nobres.

 

(O jovem Yuusako antes dos dias ruins em sua vida)

 

Mas não se agradava daquilo, vivia cada vez mais odioso de seu estado de vida e como poderia viver em um mundo onde ele, um samurai, não seria mais importante?

Era mais comum encontrá-lo em alguma taberna, ou mesmo na sarjeta, maltrapilho, com a barba por fazer, cabelos desgrenhados… Mas tinha uma beleza escondida por trás da pele clara e imunda e dos olhos castanhos com um olhar vazio para um homem no auge de seus 40 anos,que realmente aconteceu, teve sua vida virada de cabeça para baixo.

Consigo trazia somente uma trouxa velha com algumas de suas lembranças dos tempos áureos, além disso, nada mais. A não ser sua companheira inseparável: Tsubakihime, sua espada. Que ele trazia às costa, Tsubakihime era uma nodashi (uma lâmina de 1,20m de comprimento com uma bainha, toda branca, em detalhes prateados ornados na forma de flores de camélia).

Sendo apenas mais um bêbado miserável em todo o império, esperava pela morte freneticamente a fim de acabar seu martírio, entretanto, o que realmente queria era ter a oportunidade, ao menos mais uma vez, de voltar a ser o homem que já havia sido: Um guerreiro cheio de honra.

Em uma de suas bebedeiras ultrapassou todos os limites com o sakê, entrou em uma briga e tinha certeza de ter ouvido um homem na taberna falar mal dos samurais. Aquilo era um ultraje! Perdido nos prazeres da bebida acabou sendo espancado pelos clientes do local, que o expulsaram jogando-o, junto com a espada e a trouxa, em um charco de lama. Por ali mesmo dormiu. Alcoolizado, nem percebeu quando mãos suaves retiraram-no da sarjeta e o deitaram sobre as tábuas duras de uma carroça.

♦♦♦

No dia seguinte, Yuusako estava completamente acabado. Acordou debaixo de um futon em um quarto vazio onde, além dele, uma mezinha com um pobre aparelho de chá e uma pequenina clareira compunha o cenário. Aquele não era o quarto de pensão que alugava em troca de algumas moedas.

Era diferente, aromatizado com um perfume agradável que lhe remetia a algo familiar: Camélias. Ao associar o aroma procurou por sua lâmina e ela, como também sua trouxa, estavam sobre um canto do quarto, mas Yuusako não sabia onde estava, contudo decidiu de imediato que o melhor era sair daquele lugar, levantou-se, e percebeu que não estava com suas roupas e que na verdade estava limpo, completamente limpo, e vestia uma simples manta por cima do corpo.

Antes que pudesse raciocinar sobre o que estava acontecendo, a porta do quarto abriu-se atrás dele. Yuusako saltou como somente o samurai mais habilidoso poderia fazer e tomando a nodashi nas mãos sacou a arma e deteve sua reação ao ver o visitante.

— Acalme-se nobre samurai, não lhe farei mal algum. ― disse uma linda jovem vestida em um yukata florido típico das gueixas, mas com cortes mais curtos e atraentes, e o obi amarrado à frente e Yuusako logo compreendeu que só poderia se tratar de uma prostituta.

― Quem é você? ― ele perguntou embainhando a espada.

― Eu… ― ela evitava olhá-lo nos olhos.

― Sim, Você.

― Meu nome é TayuyaTayuya Miyazaki.

― Foi você que me trouxe até aqui? ― Yuusako esperou a resposta enquanto sentava para apreciar o desjejum que a garota trazia.

Nas mãos de Tayuya uma bandeja com uma tigela de arroz, alguns pedaços de peixe assado e uma xícara de chá, a  garota à frente de Yuusako era pequenina e delicada como as sakuras que a cerejeira solta durante a primavera, de pele branca capaz de doer os olhos de quem a admirasse por muito tempo, com as curvas do corpo desenhadas a dedo, os seios redondos e em nada exagerados, pernas e braços torneados e os cabelos lisos e negros, como as águas do Shinano.

Todavia o mais lindo em toda a sua beleza eram seus lábios, eles eram pequeninos e aveludados como a mais gostosa fruta que espera ansiosamente ser mordida e seus olhos, em um exótico amarelo-ouro, necessitavam de muita insistência de quem queria vê-los, pois ela parecia detestar encarar alguém.

 

(Cena do anime Sengoku Musou.)

 

Depois de servir a seu convidado ela afastou-se e ficou observando-o de longe.

― Sim, foi eu que o trouxe aqui nobre samurai. — respondeu por fim.

― Agradeço, embora eu fique curioso em saber por que, no entanto por hora peço-lhe que não se equivoque mais chamando-me de samurai. Foi-se o tempo em que mereci tal honra, pois hoje sou apenas um ronin que vaga errante pelo Japão.

― Não diga isso de você mesmo. ― ela disse em um lamento ­― Por favor, coma, se desejar mais estarei aqui fora esperando por seu chamado.

Yuusako terminou seu desjejum de forma cautelosa e por várias vezes interrompia a refeição para espiar os movimentos ao seu redor.

Não se ouvia nada a não ser o canto dos pássaros e o farfalhar do vento na copa das árvores, a comida estava deliciosa e por fim, Yuusako bateu na porta, que de imediato se abriu, Tayuya pegou as tigelas onde Yuusako comeu e se retirou.

O ronin não suportou ter que ficar observando-a com todo aquele silêncio e seguiu-a quando deixou os aposentos. Tayuya parou abruptamente ao perceber que era seguida e encarou-o sem expressão, mas ele por sua conta prendia a nodashi às costas e não se fez de rogado ao se por do seu lado.

Ela voltou-se novamente para frente e seguiu seu trajeto, Yuusako caminhou em silêncio, ele observava portas e mais portas ― algumas fechadas, outras semi abertas e outras completamente abertas, onde mulheres de todos os gostosos, ou estavam nuas ou estavam seminuas  ― e não tinha dúvida de que estava em um prostíbulo.

Entretanto não conseguia reconhecer nenhuma das mulheres ali, não que já tivesse se deitado com alguma, mas porque conhecia quase todas as prostitutas de Yokohama, cidade onde residia nos últimos anos, os corredores eram extensos e eles já haviam descido dois lances de escada quando Yuusako não resistiu e perguntou:

Tayuya-san, onde exatamente eu estou?

― Estamos na estrada imperial entre Yokohama e a antiga Edo, Tóquio, e por favor não há porque desse tipo de formalidade para comigo, apenas Tayuya.

―Tudo bem… Por favor, você pode ser mais precisa? ― ele falou um pouco incomodado.

― Estamos nas “Termas do Prazer” da senhora Akeno Kuriori próximos da capital do Império do Japão, Tóquio, aqui é um lugar de descanso para os viajantes que querem renovar suas energias nas águas quentes das termas Kuriori, e ainda deleitar-se em luxúria com belas mulheres que realizam qualquer um dos seus desejos. ― ela respondeu piamente.

Eles seguiram caminho por entre os corredores até chegar a um pátio aberto, o que mostrou a verdadeira dimensão do lugar onde estavam para o ronin.

― Mas esse é um castelo Momoyama! ― ele disse a se ver do lado de fora,deparando-se com um pátio interior de um shijo.

A garota apenas acenou com a cabeça em concordância.

― Peço que espere aqui. ― ela apontou para almofadas dispostas na varanda do pátio.

Ele obedeceu, Tayuya deixou-o só e adentrou em uma sala, não demorou muito ela retornou, subiu outro lance de escadas mais próximo, não se demorou ali também e enquanto Yuusako observava os pássaros, e via alguns dos clientes do lugar passando ao longe pelo caminho que deveria levar até as termas, não percebeu a aproximação da jovem, quando ela já está bem próxima o ronin viu seu vulto e sacou da espada por instinto, a lâmina parou rente o nariz de Tayuya, mas logo foi recolhida.

― A segunda vez em uma manhã, você deve ser bem audaciosa em pensar que pode se aproximar em silêncio de um espadachim, não é?

Para sua surpresa a garota, que até então ou tratava-o de forma rude, sorriu.

― Acompanhe-me. ― ela disse trazendo um embrulho nas mãos ― Sua anfitriã quer vê-lo, mas antes deve vestir isso.

A veste que Tayuya lhe entregou era perfeita, após vesti-la parecia que era novamente o samurai que um dia havia sido.

De banho tomado, barba feita, cabelo escovado e roupas limpas ele se apresentou a Tayuya, que não pode disfarçar seu rubor, Yuusako Morino poderia ser um homem de 40 anos oriundo de uma vida miserável, mas ainda detinha a beleza de seus tempos áureos.

Beleza que encantava todas as mulheres que o cercavam, entretanto ele nunca optou seguir uma vida amorosa, mas  dedicava-se somente ao servir como samurai. Ela aparentava ser muito mais nova que ele, mas com toda certeza era uma mulher, se não fosse, talvez não tivesse despertado a atenção do ronin, que ficou curioso com a garota desde quando a viu no quarto mais cedo.

Tayuya indicou o caminho para o espadachim, eles caminharam em silêncio lado a lado por alguns minutos e dirigiam-se novamente para fora do castelo, porém dessa vez foram mais longe, eles iam em direção as termas.

Quando finalmente chegaram encontraram uma mulher, um pouco mais velha do que Yuusako, que vestia nobres tecidos e se comportava como uma legítima gueixa.

― Há quanto tempo Yuusako Morino! ― ela disse enquanto deixava a proteção da sombra de uma cerejeira.

Yuusako intrigou-se, como aquela mulher podia conhecê-lo? Forçou-se a lembrar de seu nome, Akeno… Ele conhecia alguma Akeno? Quando ela ficou frente a frente com ele tudo se tornou claro.

Akeno Kuriori! Então é você! ― os dois não resistiram e deixando as formalidades de lado lançaram-se em um abraço cheio de energia. Quando se separaram, ele continuou ― Minha amiga, Akeno-chan! Como poderia imaginar que seria você?!

― Há quanto tempo não é meu amigo? Desde quando você se tornou um espadachim e optou por seguir o bushidô, nunca mais tinha o visto.

― Sim, é verdade. ― lembrar-se do passado causava dor a Yuusako ― Mas quer dizer então que você é da nobreza agora? ― Yuusako queria saber de onde tinha vindo tanto poder para ter um castelo.

― Digamos que eu fiz coisas não muito sensatas, mas oportunas, e alcancei o status que tenho agora.

Yuusako e Akeno conheciam-se desde a infância, eles eram filhos de magistrados em Yokohama, O pai de Akeno era superior do pai de Yuusako, mas os dois cresceram juntos graças aos encontros entre as famílias.

Akeno era sete anos mais velha que o ronin e eles sempre brincavam juntos, tanto que na adolescência nunca passou pelo pensamento de nenhum deles um relacionamento amoroso entre si, eles eram irmãos, assim prometeram um ao outro.

― Então…― disse Yuusako ― O que o destino reserva para este encontro? O que você quer de mim?

Ela tomou Yuusako por entre os braços e iniciou uma caminhada por entre as termas, Tayuya seguia mais atrás tomando distância.

― Lembra-se de nossa promessa? ― começou ela.

― Mas é claro! “Irmãos se amam! Irmãos se amparam!” ― ele disse cheio de felicidade, nenhum infortúnio tirar-lhe-ia a alegria de rever Akeno.

― Pois então… ― a pausa dramática chamou a atenção do ronin. ― Quando você entrou para o bushidô eu lhe dei de presente o maior tesouro que alguém poderia lhe dar na vida, seu pai não era um guerreiro e você precisava de uma arma. Dei-lhe Tsubakihime, meu único e mais precioso tesouro, que servia-me de lembrança de meu pai, morto em combate.

Você, devido a nosso pacto selado com sangue, prometeu-me que um dia retribuiria este favor e vejo que já o faz mantendo a espada do mesmo modo como lhe entreguei. ― ela disse alisando a bainha da espada nas costas do amigo.

― Quer que eu lhe pague este favor agora? ― Yuusako perguntou de forma seca ― Sabe que cai na miséria não é? Sabe que não passo de um ronin? Se quiser devolvo-lhe a arma, ela me serviu muito bem até hoje e sou grata por sua companhia, mas não me proibirei de pagar minha promessa.

― Não! ― ela disse com fervor ― Nunca ousaria tomar para mim esta lâmina! Dei-a ti porque sabia que somente você seria honrado o bastante para portar a arma que um dia pertenceu a meu amado pai.

― Então o que quer de mim? ― ele disse curioso.

― Sabe, eu te procurei por muitos anos. Quando foste para Edo proteger seu daimyô perdemos contato.. Muitas coisas aconteceram comigo e mais difícil ficou contatá-lo, então veio a Restauração Meiji

―… E eu e meus companheiros caímos em desgraça, meu senhor me fez abdicar da minha posição e condenou-me a uma vida sem honra.

― Honra! ― ela disse altiva ― Sobre isso que queria falar contigo! Quando soube que um ronin abatia diversos malfeitores na região onde um dia moramos, não pude deixar de pensar que minha sina a tua procura poderia ter um fim. Sabia que só poderia ser tu que havia retornado à nossa terra natal. ― eles pararam próximo à entrada de um bosque bastante isolado do castelo ― Usei de minha influência para chegar até você, queria saber se o homem que procurava era o mesmo com quem compartilhei afinidades e segredos por quase uma vida.

― Mas por que me procurava?

― Pensei que o meu amado irmão deveria estar sofrendo por ter que abdicar daquilo que mais lutou na vida: a honra de ser chamado de samurai. Sabia que você era um homem íntegro e fiel e quando confirmei essa ideia decidi-me: será a ele que incutirei tamanha incumbência.

Confuso, Yuusako perguntou de forma grosseira.

Akeno-chan do que está falando? Enlouqueceste?

Yuu-kun! ― ela pareceu não se importar com o que ele falou ― Vê aquela garota? ― ela apontou para Tayuya ― Crê que ela pode ser a chave para lhe devolver as glórias perdidas? Crê que sua amiga, irmã, e eterna companheira, Akeno Kuriori tem nas mãos um segredo poderoso que pode mudar o mundo em que vive?

― Do que está falando? ― Yuusako se assustava.

― Crê?! Responda-me, crê?! ― Akeno era efusiva.

― Sabes que jamais duvidaria de você amada irmã! Sou testemunha da tua verdade e ela não nego. Creio! E repito mais de uma vez que creio! Então diga-me: o que só tu sabes, que precisou retirar-me da sarjeta para contar?

Akeno fez sinal para Tayuya que observava de longe a conversa, a garota aproximou-se dela e Akeno mantinha uma solenidade diante da garota.

― Apresento-lhe Tayuya Miyazaki, herdeira legítima do trono de Izumo.

Do que estaria falando Akeno? Izumo? De que lugar se referia? Izumo não era uma das províncias do império nipônico? Não existia somente um senhor no Japão: o imperador? Ou ela falava de alguma terra estrangeira? Se fosse: Qual? Além do mais, Tayuya aparentava ser japonesa. Estaria mesmo louca sua amada amiga?

— Como pode haver um trono em Izumo?! Aquelas são terras do imperador! — ele disse atordoado.

— Não me refiro à província! Refiro-me a um país! — Akeno percebeu a confusão presente nos olhos de seu amigo e tratou de explicar — Yuusako, você conhece os ensinamentos taoístas?

— Sim.

— Então deves saber que segundo esta doutrina tudo no universo é regido por duas fontes de energia: o yin e o yang. — ela abaixou-se e usando o leque que trazia na mão direita rabiscou um símbolo no solo.

 

(O tei-gi é o símbolo do equilíbrio das formas yin e yang)

 

— Esse é o tei-gi, a expressão mais comum da doutrina taoísta, a parte preta significa o yin – o princípio ativo, o silêncio, a escuridão; a parte branca é o yang – o princípio passivo, a fala, a luminosidade e e em ambos residem uma fração da essência do seu diferente.

— Compreendo.. Já estive em muitas rodas de doutrinamento budistas, taoístas, confucionistas e xintoístas e até mesmo cristãs, mas nenhuma religião chamou-me a atenção. Sou descrente em todas.

— Não quero que creia, se tu consegue compreender o tei-gi está de bom tamanho.

— Mas o quê isto tem a ver com Tayuya? E que lugar é Izumo?

— Bom, se você compreende que o tei-gi exemplifica o dualogismo do universo tenho certeza que compreenderá a analogia, imagina que o universo é o tei-gi. — ela esperou até que ele acenasse com a cabeça em afirmação — Agora imagina que nós estamos aqui. — ela apontou para o yang — Estamos na luz, mas há escuridão também e essa escuridão só existe porque veio de algum lugar correto?

— Sim, veio do yin e aonde quer chegar?

— Bom, se pertencemos ao yang, e a escuridão vem do yin… — ela esperou pela resposta dele, que não veio — Significa que existe alguém no yin, e que lá, onde habita a escuridão, também tem um pouco de luz!

— Você está tentando dizer que existe outro mundo é isso?

— Bingo!

Aquilo era muita maluquice, o que teria acontecido a Akeno para ela pensar e afirmar tal coisa?

Akeno, como pode ter tanta certeza do que está falando?

A mulher não respondeu, apenas aproximou-se de Tayuya e cochichou algumas palavras em seu ouvido, ao se afastar deixou a garota sozinha em um espaço bem amplo de chão.

— Veja. — foi o que ela disse para Yuusako.

Tayuya virou de costas para eles, completamente encabulada, foi retirando de sobre os ombros às alças do yukata, desceu a peça até a cintura mostrando sua costa completamente nua. Yuusako não pode deixar de ruborizar com a cena, entretanto algo chamou sua atenção.

Um dragão, um milenar dragão celestial estava tatuado na carne de Tayuya, a garota suspirou firme, e ele teve a sensação de ver a besta se movimentar e ela começou a executar uma dança, mas na verdade eram movimentos marciais. Ela o fez sem se importar de deixar os seios a mostra para um homem e Yuusako via aquilo bastante constrangido, mas também atraído pela beleza da jovem, que transparecia leveza e sedução, contudo o que lhe chamava mais a atenção era o dragão, que parecia ficar maior e se enroscava em cada membro do corpo da garota.

 

(O dragão misterioso é a sina da jovem Tayuya)

 

A expressão de Tayuya transmitia uma dor profunda a cada centímetro que a figura animalesca avançava sobre seu corpo e por fim, quando o rosto do dragão chegou bem próximo de seu rosto ela soltou um rugido de dor, e a criatura gritou junto, das mãos delas duas poderosas bolas de fogo foram disparadas para o ar e no mesmo instante a figura do dragão recuou sobre seu corpo e voltou à posição fetal em que se encontrava.

A jovem foi tomada por um esgotamento espontâneo e quase foi ao chão, se não fosse por Yuusako que, perplexo, correu em sua direção imediatamente e a tomou nos braços.

(Continua…)