Sempre senti que Lucky☆Star ocupava um lugar especial entre os animes que assisti durante minha infância, embora eu suspeite que nunca o tenha assistido inteiramente. No entanto, sua presença tão marcante na época pode ter contribuído para que eu desenvolvesse falsas memórias sobre ele. Era uma comédia leve, repleta de personagens adoráveis envolvidos em situações igualmente encantadoras, além de oferecer uma infinidade de referências à cultura otaku ao longo do caminho.

Nos tumultuados anos 2000, uma subcultura emergiu com força, trazendo consigo uma paixão efervescente por tudo relacionado à animação japonesa: o animecore. Nesse cenário vibrante, marcado por fãs ávidos por compartilhar suas paixões e descobrir novas obras, destacou-se um anime que se tornaria um ícone desse movimento: Lucky☆Star.

Lançado em 2007, Lucky☆Star foi mais do que uma simples série de anime; era um retrato da própria cultura otaku da época. A trama aparentemente despretensiosa seguia a vida cotidiana de um grupo de garotas do ensino médio, mas sua profundidade residia na maneira como capturava a essência da vida dos fãs de anime e dos aficionados por cultura pop japonesa.

Um dos aspectos mais marcantes de Lucky☆Star era sua profunda metalinguagem. Referências a outros animes, jogos, mangás e até mesmo à cultura japonesa eram abundantes, criando uma teia de conexões que só os verdadeiros conhecedores poderiam apreciar plenamente. Essas referências não eram apenas enfeites, mas uma parte integrante da experiência de assistir ao anime, alimentando discussões acaloradas em fóruns online e entre amigos. Muitos momentos da série ficaram inesquecíveis como referências a Kamen Rider, Initial D e Dragon Ball Z.

Além das referências, Lucky☆Star destacou-se por sua abordagem descontraída e seu humor peculiar. As conversas aparentemente banais entre as personagens sobre assuntos como comida, jogos e trivialidades do dia a dia ressoavam com a audiência, proporcionando momentos de identificação. Era como se os próprios espectadores estivessem sentados junto com as personagens, compartilhando suas experiências e piadas internas.

Justamente por relatar a vida de um otaku, acredito que foi por isso que o anime se tornou tão popular na época, sempre sendo uma referência para os otakus da época e aparecendo em memes, páginas do Facebook, Orkut e em toda a internet.

Slice of life

Lucky☆Star é uma obra repleta de nuances que contribuem para o seu humor, e acredito que vale a pena examinar cada uma delas separadamente, pois tanto em conjunto quanto isoladamente, elas funcionam de maneira excepcional.

A primeira camada de humor se encontra nos diálogos cotidianos da vida comum. É aquele tipo de humor que surge da identificação com situações reais. A estrutura dos episódios, divididos em blocos de esquetes baseados nos yonkomas (quadrinhos de quatro painéis), proporciona um terreno fértil para piadas recorrentes, como aquela em que as personagens estão no meio de uma conversa e mencionam algo como “mas isso fede, não é?” sem nunca especificar exatamente sobre o que estavam falando antes para chegar a essa conclusão.

Os temas abordados são diversos, desde preferências alimentares até hábitos e rotinas comuns, além de hobbies. Por exemplo, há uma cena em que Konata e Kagami conversam ao telefone, destacando como as pessoas frequentemente começam a fazer várias atividades, como arrumar a mesa ou limpar um móvel, enquanto estão ao telefone, apenas para manter as mãos ocupadas. No entanto, assim que a ligação termina, a motivação para continuar com essas tarefas parece desaparecer.

Apesar de a história girar em torno das quatro, o grande destaque e rosto ao anime vai para a Konata, uma fervorosa “otaka” que se tornou icônica o suficiente para ser a referência quando se tratava do assunto.

Referências

Alguns temas de encerramento da série apresentam as próprias personagens cantando em um karaokê algumas aberturas e endings clássicas, como Cha-La Head-Cha-La de Dragon Ball Z ou os clássicos dos tokusatsus dos anos 70, como Akumaizer 3 e Uchū Tetsujin Kyōdain, ambas obras do mesmo criador de Kamen Rider, Ishinomori Shōtarō.

Além disso, o anime fez um crossover com Anime Tenchō. O título foi criado pela Gainax para representar uma das maiores lojas de anime, games e mangás do Japão. Nele, conhecemos Anizawa Meito, o gerente com uma paixão ardente pelo seu trabalho, administrando sua trupe de funcionários. O título rendeu adaptações em mangá, Drama CDs e um OVA dirigido por Anno Hideaki, criador de Evangelion. Em Lucky☆Star, eles aparecem quando Konata visita a loja e a chamam de “Densetsu no Shōjo A”, algo como “a Garota Lendária A”, fazendo um esforço colossal para convencê-la a comprar algo da loja, num nível extremo do melhor do exagero que podemos esperar da Gainax.

Abertura

Ok, mas no final, para mim pelo menos, o que mais me traz nostalgia é a abertura, tanto a música quanto a animação. Além disso, a música tema da abertura, Motteke! Sailor Fuku, interpretada pelo grupo de dubladoras principal, tornou-se instantaneamente reconhecível para os fãs.